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Felipe Salles

  • Foto do escritor: Sofia Calabria
    Sofia Calabria
  • 25 de nov. de 2016
  • 1 min de leitura

Era 1992 para 1993. Ainda não havia tomógrafos, então não dava pra saber o que estava acontecendo dentro do meu corpo. Fizeram todos os testes com sangue, de presença desta ou daquela substância. Eu não parava de chorar e não parava de doer. Minha mãe inclusive ficou com os cabelos brancos nessa época, tadinha (risos). Eu fui o causador dos cabelos brancos da minha mãe. Até que um dia passou um doutor do meu lado e viu na minha anamnese que eu tava tomando tantos ml de morfina e virou pra ela e falou “e ele não para de chorar?” e ela falou “não”. Ele falou “ah então a gente vai ver o que esse bebê tem agora”. Ele me levou direto pra sala de cirurgia. Aí já abriram e viram que tinha esse “divertículo de meckel hemorrágico”, que é uma doença de má formação em que a pele que reveste o estômago foi corroída, portanto o suco gástrico tava me digerindo de dentro pra fora. Eu já tinha perdido parte dos órgãos. Inclusive meu intestino tava se liquefazendo. Ele reconectou os meus órgãos e me fechou e por conta disso eu tinha uma cicatriz que ia desde o osso externo até o pênis. Era imensa e com o tempo ela foi diminuindo e hoje ela fica só em volta do meu umbigo. Ela é uma cicatriz que eu não vi acontecer e que remete a um momento da minha vida que é de memórias construídas, contadas. Ela faz tão parte de mim que quando as pessoas me perguntam se eu tenho uma cicatriz eu não lembro que ela é uma.


 
 
 

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