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Mariah Peixoto

  • Foto do escritor: Sofia Calabria
    Sofia Calabria
  • 24 de nov. de 2016
  • 3 min de leitura

Eu tinha 14 anos quando conheci meu primeiro namorado. Tinha tido anorexia antes, tinha vários problemas com peso, imagem, tinha muita espinha. Eu tava numa fase meio ruim. Sabe pré-adolescente, que você não se acha bonita? Tava muito fragilizada. Sempre usei óculos, meu nariz é grande, vários problemas com auto-estima. Acabei encontrando um menino na internet via orkut. O nome dele era Bruno. E as minas pagavam mó pau pra ele e eu tipo, “mano esse cara nunca vai me dar bola porque eu sou feia”. Mas acabou que o cara começou a conversar comigo e eu comecei a me sentir mais especial. Um cara bonito tava me dando atenção. Pensei que ninguém nunca fosse me dar atenção. Só que eu dei ruim porque o cara era um escroto. Bastante machista. Ele se definia como misântropo. Sabe o que é essa palavra? Eu não sabia na época. É uma pessoa que não gosta de outras pessoas, que fica meio reclusa. O cara basicamente vivia online, reforçando o ego dele, postando várias fotos. Mas ele era gato e eu falei “vou tentar, já que ele tá me dando bola”. Eu fui muito trouxa. Só hoje em dia depois que eu comecei a conhecer o feminismo que deu pra perceber como ele era machista e usava várias minas. Mas enfim, ele começou a dar em cima de mim, a gente foi conversando, começou a falar na webcam e ele pediu pra começar a ver meu corpo. Eu não queria. Eu tinha 14 anos, ele tinha 19. Falei que eu não tava afim. Só que ele começou a fazer um jogo psicológico. Que se eu gostasse dele iria ter confiança. Aí eu “ah se eu não fizer isso ele nunca mais vai falar comigo, ninguém vai gostar de mim”. Comecei a mostrar. Ele pediu pra ver a minha barriga e eu falei que tinha duas pintas. Eu gostava delas. Quando eu era pequena meu pai falava que eu tava suja de chocolate, aquelas brincadeirinhas. Eu achava elas charmosinhas. Quando o cara viu ele falou que era contagioso, que ele nunca iria encostar em mim se eu não tirasse aqueles negócios, que ele achava nojento, que odiava gente com pinta. Eu não sabia muito o que fazer. Ele falou “vai e tira”. Eu pensei, “mano, não sei se eu quero”! Fui na dermato. Ela falou, “não, essa pinta é normal”. Eu falei pro cara e ele falou que mesmo assim era nojento. Resumindo, eu quis tirar a pinta. Só que eu não sabia que eu tinha má cicatrização. Fiquei com uma queloide. Em vez da pinta tem uma cicatriz. Ele achou mais de boa, mas eu preferia duzentas vezes mais as minhas pintas. Eu fiquei muito triste. Na época eu pensei “ah pelo menos o cara vai ficar comigo”. Foi muito escroto. Mas na época eu era muito insegura. Queria a atenção do cara. A gente namorou por um ano e foi horrível. Na época eu tava sem entender, era meu primeiro namorado. Mas ele fazia muito jogo psicológico. Eu carrego essa cicatriz até hoje. Eu não gosto porque eu não gosto de lembrar dele. Me estressa muito. O corpo é meu. Uma pessoa não gostar de mim por causa um pinta? É uma pessoa que eu não quero na minha vida. Foi uma aprendizagem pra eu me aceitar. Pra eu ver que eu não preciso da aprovação de outras pessoas. É uma lembrança pra eu ver como eu tenho que ser forte e não me submeter a essas coisas.




 
 
 

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