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Denise Marcondes

  • Foto do escritor: Sofia Calabria
    Sofia Calabria
  • 25 de nov. de 2016
  • 3 min de leitura

As da perna foram consequência de uma cirurgia de tumor ósseo. Eu tinha 21 anos quando eu descobri. Fiz a cirurgia e coloquei um fixador externo e ele fez duas cicatrizes grandes. Foram sete cirurgias. Muitas cicatrizes que foram feitas num período de sete anos. Eu era muito nova. Foi um processo complicado. Tive que abandonar minha profissão. Aquela na qual eu tinha acabado de me formar. Sou professora de educação física. Eu falo que são aquelas ironias do destino. Foi por causa da faculdade que eu descobri que eu tinha o tumor e por causa dele não pude continuar minha profissão. Por causa da perna eu tive que tirar osso da bacia, lateral e atrás. Então tenho mais duas cicatrizes na lateral da bacia e no sacro. Agora recentemente eu tirei um câncer de mama, então eu tenho mais duas no mamilo. Só que daqui um mês vou ter que fazer outra cirurgia. (choro). Sempre teve aquela coisa “ah, porque o importante é a saúde”. Como se estética fosse uma coisa à parte, não fosse importante. Mas a gente não pode tirar o foco de que a pessoa se sentir bem com a auto-estima também faz diferença. O que eu mais ouvia das pessoas era “ah isso é bobagem, você não é só uma perna”. Racionalmente eu sei disso, mas isso mexe sim com a auto-estima (choro). Quando eu voltei para a minha área, eu tinha que usar maiô o dia todo. Isso me ajudou um pouco, mas não é uma coisa totalmente resolvida. Eu não deixo minha perna exposta no dia a dia. Ela tá sempre ou com uma calça ou saia comprida. Se é um vestido curto, eu tô de bota. Quando veio essa notícia do câncer eu pensei “eu já fiquei com uma perna mutilada, agora eu vou ficar com uma mama mutilada também?” (choro). Agora não vai ser como a perna, que “o importante é só a saúde”. No caso da mulher, a mama tem importância no aspecto da feminilidade. Então eu também tinha essa preocupação de não ficar com uma mama deformada. Que eu resolvesse o problema de saúde, mas que eu me sentisse bem quando me olhasse no espelho e visse que a minha mama não tava deformada. Só que é isso. Quinta-feira agora eu recebi o diagnóstico. Tô com câncer na outra mama também. Então eu vou ter que tirar as duas mamas. Mastectomia bilateral. Ele sugeriu inclusive que fosse total. Que fossem tirados inclusive os mamilos. E isso pra mim é uma coisa que tá muito difícil de aceitar. Ele deixou que eu decidisse o que eu queria fazer. Pra mim, olhar no espelho depois e ver que eu tô sem mamilo vai ser muito difícil. (choro) Inclusive no processo de recuperação. A auto-estima também ajuda com que o seu processo pós-operatório seja melhor. Então é isso tudo que eu fico pensando. O problema nem é a cicatriz. Vai mais além do que isso. Qual vai ser esse custo-benefício pra mim? Eu não sei se isso é vaidade, se é fútil, mas é como eu sinto. As cicatrizes contam muita história. São marcas que são permanentes e que às vezes não são tão bonitas, mas por outro lado tem uma marca de que eu passei por um processo. Eu venci, eu tô aqui, eu tô viva. Os dois lados da moeda.



 
 
 

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