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Mayara Aranha

  • Foto do escritor: Sofia Calabria
    Sofia Calabria
  • 25 de nov. de 2016
  • 3 min de leitura

Eu tinha que tirar os dentes do siso. Os meus dois dentes do siso de baixo tavam deitados, o de cima tava em pé, mas tava muito pra cima. Não tinha espaço pra nascer, ia ter que tirar. Aí eu consegui marcar no Hospital Universitário, lá na USP. Eles falaram, “não, seu dente tá muito difícil, vai ter que ser anestesia geral”. Eu falei, “ai que bom”! E eles me falaram que meu dente tava muito perto do nervo e que se eles mexessem errado no nervo eu poderia ficar sem sensibilidade no maxilar pra sempre. Eu fiquei bem assustada com essa cirurgia. Mas eu fui e fiz. Aí eu acordei da cirurgia, tava meio dopada ainda por causa da anestesia. Eu senti que tinha alguma coisa na minha boca. Saí meio com sono ainda, aí eu fiquei mexendo na boca. A enfermeira falou “tira a mão dai, menina”(risos). E eu nem sabia o que era. Quando eu voltei pra enfermaria falaram “deu tudo certo na sua cirurgia, só que teve um acidente. O fio do motor que a gente tava usando pra fazer a cirurgia superaqueceu e cortou a sua boca”. Então eu tava com um ponto na boca. Parecia um piercing (risos). Só que eu tava tão feliz que tinha acabado a cirurgia que eu nem liguei, sabe? Só que depois o tempo foi passando e eu comecei a ficar preocupada com essa cicatriz que ia ficar na minha boca. Eu não fiquei com raiva no começo porque eu pensei, “ah, eles fizeram o trabalho direito”, mas depois eu fiquei com um pouco de raiva porque isso não era pra acontecer. Não era pra ficar nenhuma cicatriz aparente. Aí eu fui tirar os pontos da minha boca e esticaram muito, abriu de novo e eu tive que tomar outro ponto e quando tirou o ponto de verdade eu fiquei bem chocada quando eu vi no espelho. Ficou um vinco na minha boca. Embaixo estava uma mancha vermelha. Parecia que nunca mais ia ficar a linha da minha boca. Tava muito feia. Eu comecei a chorar. Minha mãe falou “não, Mayara. Não se preocupa. Você tirou o ponto agora. Depois vai voltando”. Porque o que aconteceu? Minha boca abriu. Fez tipo um V. Então eles tiveram que cortar um pedaço e juntar. Então minha boca ficava esticando porque tiraram um pedaço de pele, sabe. Então isso me dava aflição. Eu não sinto mais isso, mas a elasticidade dela nunca vai voltar. Eu tinha vergonha. Aí eu comecei a usar batom vermelho (risos) pra apagar essa marca na minha boca. Eu ia pra faculdade, pro trabalho, tudo de batom. Eu nunca gostei muito de maquiagem, só que eu toco num grupo de maracatu e lá quando a gente se apresenta as meninas usam batom. Eu falei “ah que bonito, acho que vai ficar bom com o figurino”. Aí eu comprei um batom, só que eu só usava naquele contexto e pra esconder a cicatriz. Mas depois que eu parei de ligar para a cicatriz eu falei, “nossa, o batom fica legal”. E hoje eu uso batom porque eu quero, sabe, não pra esconder a cicatriz nem nada. Eu não ligo muito mais, porque eu acho que podia ser tão ruim o que poderia ter acontecido, sabe, que agora parece uma coisa fútil se preocupar tanto com uma cicatriz. Aí tem uma história pra contar agora.



 
 
 

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