Sofia Calabria
- Sofia Calabria
- 25 de nov. de 2016
- 2 min de leitura

Quando eu tinha 9 anos começaram a aparecer umas manchas vermelhas na minha coxa. A gente foi ao hospital e eu lembro até que o médico perguntou: “você comeu Babaloo?” e por coincidência eu tinha comido, então a gente ficou achando que era alergia mesmo. Aí eu voltei pra casa, só que as manchas não sumiram e eu comecei a ter febre muito alta. 39, 40 graus de febre. Eu lembro exatamente do dia em que eu realmente delirei por causa de febre. É um momento que eu não esqueço. Então eu fui pro hospital de fato e fiquei internada, porque ninguém sabia o que eu tinha. Eu fiquei muito tempo internada. Fiquei mais de um mês internada direto. Foi um período bem marcante porque minha mãe, meu pai, minha família inteira ficou muito preocupada. E os médicos pesquisando, pesquisando, até que a minha mãe falou que eu tinha tomado a vacina de hepatite B não fazia muito tempo. Eu tinha tomado até a segunda dose. E elas descobriram que essa vacina tinha dado casos de lúpus em algumas pessoas. Graças a Deus não foi o meu caso, mas ainda assim não se sabia o que eu tinha. Então eu fui fazer uma biópsia no meu braço esquerdo. Tiraram um pedacinho do meu músculo e aí ficou essa cicatriz. Ela é meio larguinha porque depois dos pontos normais colocaram um ponto falso, só que eles tiraram o ponto antes do tempo, provavelmente, porque ela começou a abrir, né. E por isso ela ficou larga assim, porque foi fechando de dentro pra fora. Eu lembro até que inflamou um pouco. Finalmente descobriram o que eu tinha: chamava “poliomiosite”. Era uma doença autoimune. Então essa cicatriz pra mim representa um momento meio incerto. Era o momento em que eu ia saber o que eu tinha. Ela marca esse momento da minha vida. Eu não ligo pra estética dela. Na época minha mãe até falou em fazer plástica, mas eu nunca liguei pra isso, de verdade. Até acho ela bonitinha. Uma amiga fala que ela parece uma baratinha. Acho bonitinho o apelido. De modo geral foi um período da minha vida que me marcou mais do que qualquer outro. É um período que eu devo muito à minha mãe, meus avós. Se não fossem os cuidados deles, eu realmente não sei como teria sido. Foi um período de muita dedicação e eu só tenho a agradecer. E essa cicatriz é o que me liga diretamente àquele momento. Ela tá aqui no meu braço e é um lugar que eu vejo sempre e não tem como não lembrar disso todas as vezes em que eu olho pra ela. A sensação que me vem é boa, apesar do momento ter sido difícil. Eu gosto dela. Ela de alguma forma representa aquilo que me salvou. Me possibilitou saber o que eu tinha e, a partir dela, me tratar e ficar boa, graças a Deus. Ela é a marca de continuidade, de história.
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